Vejo a tua noite como uma pele, amor,
cobre-me a pupila e aguardo essa dor
que supões ser só tua, triste.
Particularmente,
evidencio um esgar de tristeza que não conheces,
essa que suponho ser só a tua única pele nessa noite;
e em delicada ambiguidade adormeço, quase como tu, enfeitiçando;
e eu, como tu,
também esqueço
essa pele escura, amor,
que cobriu o brilho na pupila;
e como se ao teu lado estivesse, guardo um profundo silêncio,
esse que te ofereço em segredo, como uma prece – religiosa – divina ; e envolvo-me solitária pele,
a que nos conhece.
1.7.08
Cartas de Amor
XXX
Brandos e mansos os hálitos misturando-se como um perfume lânguido ou envenenado, eriçando o revelar dos segredos, no liame, no amor de realidades distintas, afundando-se na corrosão desesperada da festividade: a vida.
Brandos e mansos os hálitos misturando-se como um perfume lânguido ou envenenado, eriçando o revelar dos segredos, no liame, no amor de realidades distintas, afundando-se na corrosão desesperada da festividade: a vida.
Cartas de Amor
XXIX
No meu ciúme, amor, há uma fatalidade embutida, uma adaga assolando a alienação do meu bem na bifurcação ou apenas um berço em que adormeço colhendo frutos. Nele sei encontrar a infâmia ou a tua mão acenando, enquanto vergo a árvore mais próxima no sacrifício.
No meu ciúme há um prazer (amor) alheio que me empurra para um viaduto, onde desfaço a escuridão golfando os ardis, em sumptuosas mariposas ou em intrépidos flancos.
No teu ciúme, imune, também me encontro lápide ou relógio de um tempo adormecido para meu gáudio, sem piedade e sem remorso digladiando o teu encanto.
No meu ciúme, amor, há uma fatalidade embutida, uma adaga assolando a alienação do meu bem na bifurcação ou apenas um berço em que adormeço colhendo frutos. Nele sei encontrar a infâmia ou a tua mão acenando, enquanto vergo a árvore mais próxima no sacrifício.
No meu ciúme há um prazer (amor) alheio que me empurra para um viaduto, onde desfaço a escuridão golfando os ardis, em sumptuosas mariposas ou em intrépidos flancos.
No teu ciúme, imune, também me encontro lápide ou relógio de um tempo adormecido para meu gáudio, sem piedade e sem remorso digladiando o teu encanto.
Cartas de Amor
XXVIII
Reconciliar, amor, o corpo com o derramamento do mundo é aprender a morrer, superar o ciúme e a posse da pobreza.
Quantos dias são necessários viver no jugo (amor) sem fixar nenhuma planície ou o teu nome? Enquanto caio é ódio que atraio – de mim glorioso – amálgama em núpcias de embriaguez e de distanciamento.
Reconciliar, amor, o corpo com o derramamento do mundo é aprender a morrer, superar o ciúme e a posse da pobreza.
Quantos dias são necessários viver no jugo (amor) sem fixar nenhuma planície ou o teu nome? Enquanto caio é ódio que atraio – de mim glorioso – amálgama em núpcias de embriaguez e de distanciamento.
Cartas de Amor
XXVII
Para sempre, amor, é uma oração alheia ao humano perecimento. Mas há quem nos seus lábios a tenha escrito, quando beija, a meio de uma enfermidade (amor) que vai acariciando como se esta lhe fosse estranha.
Para sempre, amor, é uma oferenda que apazigua, quando o ouvido se distrai, na mais reservada das torturas.
Para sempre, no laço da minha carne, haverá algo (amor) do teu corpo desejando o avaro sabor destes dias?
Para sempre, amor, é uma oração alheia ao humano perecimento. Mas há quem nos seus lábios a tenha escrito, quando beija, a meio de uma enfermidade (amor) que vai acariciando como se esta lhe fosse estranha.
Para sempre, amor, é uma oferenda que apazigua, quando o ouvido se distrai, na mais reservada das torturas.
Para sempre, no laço da minha carne, haverá algo (amor) do teu corpo desejando o avaro sabor destes dias?
Cartas de Amor
XXVI
Exausta da minha solidão, amor, vou olhando para os espelhos, e furtivo (amor) é o bater de asas das borboletas, quando morcego te aproximas para um jantar, por entre licores e a pobre música do acaso.
Uivando, amor, estão os lobos na alcateia, à margem de um lago negro, vendo os seus lacustres rostos deformando-se na imensidão de um amor, que – só – no reflexo vê a afabilidade da face, dissimulando (amor) à beiras das lágrimas.
Revê a fome de teu corpo, amor, entregando-se cintel, e no fôlego: o desejo de ti, livre respirar.
Exausta da minha solidão, amor, vou olhando para os espelhos, e furtivo (amor) é o bater de asas das borboletas, quando morcego te aproximas para um jantar, por entre licores e a pobre música do acaso.
Uivando, amor, estão os lobos na alcateia, à margem de um lago negro, vendo os seus lacustres rostos deformando-se na imensidão de um amor, que – só – no reflexo vê a afabilidade da face, dissimulando (amor) à beiras das lágrimas.
Revê a fome de teu corpo, amor, entregando-se cintel, e no fôlego: o desejo de ti, livre respirar.
Cartas de Amor
XXV
No tempo das buganvílias, amor, as noites segredam os seus desejos em estivais sorrisos de pálpebras, e os corpos aproximam-se nos precipícios como se tivessem asas que os resgatassem na queda.
Mas nos promontórios não há festa em que não se sangre, em que não se desconheça um vazio independente esperando-nos enlace.
Nas noites quentes da floração das buganvílias, amor, as minhas asas abeiraram-se do festim e eu sangrei durante muito tempo (amor).
No tempo das buganvílias, amor, as noites segredam os seus desejos em estivais sorrisos de pálpebras, e os corpos aproximam-se nos precipícios como se tivessem asas que os resgatassem na queda.
Mas nos promontórios não há festa em que não se sangre, em que não se desconheça um vazio independente esperando-nos enlace.
Nas noites quentes da floração das buganvílias, amor, as minhas asas abeiraram-se do festim e eu sangrei durante muito tempo (amor).
Cartas de Amor
XXIV
Rendo-me, amor, à ausência, fustigando tudo o que em mim me enraíza a ti – obrigada – sem que milagre algum nesta terra derrote o desígnio.
Por vezes, amor, sei que não existo dentro das tuas pálpebras como libertinagem que apaixona e – só – empreendo no lapso: uma morada de maçãs verdes como a minha habilidade ou de romãs vermelhas à mercê das tuas mãos de música, tocando na corda exacta (amor) o som que sibila o mistério.
Rendo-me, amor, à ausência, fustigando tudo o que em mim me enraíza a ti – obrigada – sem que milagre algum nesta terra derrote o desígnio.
Por vezes, amor, sei que não existo dentro das tuas pálpebras como libertinagem que apaixona e – só – empreendo no lapso: uma morada de maçãs verdes como a minha habilidade ou de romãs vermelhas à mercê das tuas mãos de música, tocando na corda exacta (amor) o som que sibila o mistério.
Cartas de Amor
XXIII
Não sei de que se faz a indiferença, amor, como podes trazer-me dentro sem que não te ilumines, sem que não te censures perversamente, sem que não saibas quando te olho: vou morrendo como uma pedra insensível ao teu bem.
Sei, sei, amor, que devolvo em tinta bruta os meus olhos fulminados, enquanto me trespassas sem murmúrio.
E ser-te na multidão o golpe do tempo, a tatuada noite de pegadas – vazios de ti, em mim, contrafeitos raro sol.
Não sei de que se faz a indiferença, amor, como podes trazer-me dentro sem que não te ilumines, sem que não te censures perversamente, sem que não saibas quando te olho: vou morrendo como uma pedra insensível ao teu bem.
Sei, sei, amor, que devolvo em tinta bruta os meus olhos fulminados, enquanto me trespassas sem murmúrio.
E ser-te na multidão o golpe do tempo, a tatuada noite de pegadas – vazios de ti, em mim, contrafeitos raro sol.
Cartas de Amor
XXII
Malograr, amor, é tão excêntrico, neste ser-te. Porque não te descuidas? Eu que dos meus olhos exclui o mundo para que possas reflectir a minha sombra segurando-me os ombros, também me perdi sem contenda na ruptura.
Só e ignorante é o poder, amor, de não saberes ler a rendição irreprimível ou eu desconhecendo a tua solitude, o artefacto (amor) raro e fechado sobre ti.
Malograr, amor, é tão excêntrico, neste ser-te. Porque não te descuidas? Eu que dos meus olhos exclui o mundo para que possas reflectir a minha sombra segurando-me os ombros, também me perdi sem contenda na ruptura.
Só e ignorante é o poder, amor, de não saberes ler a rendição irreprimível ou eu desconhecendo a tua solitude, o artefacto (amor) raro e fechado sobre ti.
Cartas de Amor
XXI
Porque não sobrevives, amor, ao meu lado, restaurando a imagem que consentes de mim, sem que eu fique vazia e irreconhecível.
Amor, porque sobrevives, imerso, pendente na corrosiva penumbra em que persistes, cantando tudo, deturpando a imagem, as imagens, amor, falando outra língua. Como se a natureza humana ficasse tão distante, fosse tão estranha.
Meu amor de tudo o que não posso, estreito ribeiro me deixas – pleno fio de liberdade e convulsão de dias – sustendo-me amor, amor o desejo de mais ser-te impossibilidade.
Porque não sobrevives, amor, ao meu lado, restaurando a imagem que consentes de mim, sem que eu fique vazia e irreconhecível.
Amor, porque sobrevives, imerso, pendente na corrosiva penumbra em que persistes, cantando tudo, deturpando a imagem, as imagens, amor, falando outra língua. Como se a natureza humana ficasse tão distante, fosse tão estranha.
Meu amor de tudo o que não posso, estreito ribeiro me deixas – pleno fio de liberdade e convulsão de dias – sustendo-me amor, amor o desejo de mais ser-te impossibilidade.
Cartas de Amor
XX
Ato ao meu desejo o teu corpo, amor. Ato amor ao desejo, ao meu corpo. Acto (amor) és tu. Ato-me a ti, de desejo comovida.
E tu? Como me desprendes de ti? Talvez incêndio ou morte
de ti, de mim, ali esquivos.
Ato ao meu desejo o teu corpo, amor. Ato amor ao desejo, ao meu corpo. Acto (amor) és tu. Ato-me a ti, de desejo comovida.
E tu? Como me desprendes de ti? Talvez incêndio ou morte
de ti, de mim, ali esquivos.
Cartas de Amor
XIX
Raro, amor, é não saber no corpo a verdade explodindo, rasurar nos olhos o desejo de não ficar – assim – renunciada – anunciada morte.
Enquanto espero, amor, o teu abrigo alojando-se fresta: vou eclodindo em ti e perdendo-te na erosão visível.
Como se não valesse a pena a duração vou viver – sem esquecer – amor: de todo este lixo me fazes o desperdício. E o que resgatarás na vertigem (amor ) desta terra?
O meu nome, perdidamente, efémero resto de ti.
Raro, amor, é não saber no corpo a verdade explodindo, rasurar nos olhos o desejo de não ficar – assim – renunciada – anunciada morte.
Enquanto espero, amor, o teu abrigo alojando-se fresta: vou eclodindo em ti e perdendo-te na erosão visível.
Como se não valesse a pena a duração vou viver – sem esquecer – amor: de todo este lixo me fazes o desperdício. E o que resgatarás na vertigem (amor ) desta terra?
O meu nome, perdidamente, efémero resto de ti.
Cartas de Amor
XVIII
Sinistra, amor, é a veloz fuga em que te desamparas riso ou choro – comoventes – origens do meu: escuta-me, escuta-me amor.
Não resistir e não poder absolutamente atingir-te no tormento, na volúpia, e tu submerso, enquanto na superfície a pele absorve toda a entrega de uma realidade derradeira: construída no envolvimento da água (amor) cativando-se.
E no céu os pássaros, abandonando-se à primavera, são como o meu corpo: rindo, rindo do horror deste inverno, amor.
Ali, a morte será como bailarina treinando a sua sombra ante um espelho opaco.
Sinistra, amor, é a veloz fuga em que te desamparas riso ou choro – comoventes – origens do meu: escuta-me, escuta-me amor.
Não resistir e não poder absolutamente atingir-te no tormento, na volúpia, e tu submerso, enquanto na superfície a pele absorve toda a entrega de uma realidade derradeira: construída no envolvimento da água (amor) cativando-se.
E no céu os pássaros, abandonando-se à primavera, são como o meu corpo: rindo, rindo do horror deste inverno, amor.
Ali, a morte será como bailarina treinando a sua sombra ante um espelho opaco.
Cartas de Amor
XVII
Nem eu , amor, suspeitei que a fuga nos franquearia o poder de nos exilarmos em sossego, excedendo-nos força e atrito que impede a emoção de não consumar o simples. Como é saber fugir ignorando?
E quanto do mundo, da noite, da solidão, será como sabão misturando-se nas águas. E quanto de mim, em ti, será o sabão da solidão na noite do mundo?
E haverá uma água interdita (amor)? – agregando, cruel, a espuma subtraindo-nos – sós – puros ou sem pudor.
Nem eu , amor, suspeitei que a fuga nos franquearia o poder de nos exilarmos em sossego, excedendo-nos força e atrito que impede a emoção de não consumar o simples. Como é saber fugir ignorando?
E quanto do mundo, da noite, da solidão, será como sabão misturando-se nas águas. E quanto de mim, em ti, será o sabão da solidão na noite do mundo?
E haverá uma água interdita (amor)? – agregando, cruel, a espuma subtraindo-nos – sós – puros ou sem pudor.
Cartas de Amor
XVI
Quando profundamente me emocionei, amor, diante de mim, sabiamente, assisti à imagem devorando-me, enquanto celebravas, sublime, outra música estrangeira ou desconhecida, sem pessoal curiosidade.
Por entre muitas vozes, desconexa – (amor)– de mim vai ficar a perturbação galopando sem perfil – o certo – amor.
E apenas ser-te me sei – ter-te não basta amor – no corpo de sede vejo, em esplêndido suor, o quanto esta terra nos enche sós – como os rios se arrojam para o mar.
Quando profundamente me emocionei, amor, diante de mim, sabiamente, assisti à imagem devorando-me, enquanto celebravas, sublime, outra música estrangeira ou desconhecida, sem pessoal curiosidade.
Por entre muitas vozes, desconexa – (amor)– de mim vai ficar a perturbação galopando sem perfil – o certo – amor.
E apenas ser-te me sei – ter-te não basta amor – no corpo de sede vejo, em esplêndido suor, o quanto esta terra nos enche sós – como os rios se arrojam para o mar.
Cartas de Amor
XV
Deslumbrada, amor, fico mistério que não desvendas renúncia ou sacrifício. E na minha festa muitos serão os convidados, porque abrir os olhos, amor, é tão bárbaro como fechá-los; são as duas formas acidentadas de cair incautamente.
Mas – só – tu, amor, sem o silêncio aplacando o logro, a derrubar o acontecer, te surpreenderás, já suspenso (amor) e sem regozijo.
Deslumbrada, amor, fico mistério que não desvendas renúncia ou sacrifício. E na minha festa muitos serão os convidados, porque abrir os olhos, amor, é tão bárbaro como fechá-los; são as duas formas acidentadas de cair incautamente.
Mas – só – tu, amor, sem o silêncio aplacando o logro, a derrubar o acontecer, te surpreenderás, já suspenso (amor) e sem regozijo.
Cartas de Amor
XIV
Quebrada, amor, vou forjando uma nova forma de pesar o desperdício, sabendo que não compreendes esta feição absurda de seres possível face que adormece domicílio (amor), sem culpa ou desespero por entre a minha mesa insaciável.
Sem desagravo vou mentir, amor: durmo tranquilamente e já não necessito de te alojar; enquanto um perigoso fastio de tudo se vai apossando.
E tu? Como é fácil não sentir – se interdito (amor) te impuseste. Único possível.
Quebrada, amor, vou forjando uma nova forma de pesar o desperdício, sabendo que não compreendes esta feição absurda de seres possível face que adormece domicílio (amor), sem culpa ou desespero por entre a minha mesa insaciável.
Sem desagravo vou mentir, amor: durmo tranquilamente e já não necessito de te alojar; enquanto um perigoso fastio de tudo se vai apossando.
E tu? Como é fácil não sentir – se interdito (amor) te impuseste. Único possível.
Cartas de Amor
XIII
Vencida, amor, no soturno tempo desmedido à espera da pausa – de ti – sem indício abrindo feridas raras. Abarcar, amor, cada noite podendo ser tão diferente, mas por dentro há uma âncora que persiste alagando-me sem poder ousar a diferença. Abandonar, amor, abandonar tudo subitamente sem remorso, sem dor para lembrar que existi tão perto (amor). Lançar, amor, outra vontade de percorrer esta distância contorcida, como se pudesse, como se o quisesse.
Vencida, amor, no soturno tempo desmedido à espera da pausa – de ti – sem indício abrindo feridas raras. Abarcar, amor, cada noite podendo ser tão diferente, mas por dentro há uma âncora que persiste alagando-me sem poder ousar a diferença. Abandonar, amor, abandonar tudo subitamente sem remorso, sem dor para lembrar que existi tão perto (amor). Lançar, amor, outra vontade de percorrer esta distância contorcida, como se pudesse, como se o quisesse.
Cartas de Amor
XII
Para não chorar, amor, imagino a tua mão vencendo a superfície da sombra. Para não sofrer, amor, imagino o teu corpo desejando. Para não desesperar, amor, imagino bruscamente uma lágrima ruindo no meu rumor, adormecido por entre o teu desejo. Para não morrer, amor, imagino o teu corpo em excesso, excedendo-se à minha sede. Amor, para não viver novamente, imagino demoradamente que não existo e que tu apenas me cuidas – sonho – para durar amor.
Para não chorar, amor, imagino a tua mão vencendo a superfície da sombra. Para não sofrer, amor, imagino o teu corpo desejando. Para não desesperar, amor, imagino bruscamente uma lágrima ruindo no meu rumor, adormecido por entre o teu desejo. Para não morrer, amor, imagino o teu corpo em excesso, excedendo-se à minha sede. Amor, para não viver novamente, imagino demoradamente que não existo e que tu apenas me cuidas – sonho – para durar amor.
Cartas de Amor
XI
Não me leves a sério, amor, quando escrevo palavras gastas e usadas. Não, não me leves a sério, amor. Serei eu cínica amadora nesta arte de amar por predestinação, sortilégio de uma espécie empacotada? Não, amor, não me leves a sério quando escrevo o que é desejo ouvir, nem que seja a negação. Não, amor, leva-me a sério quando escrevo amor onde me leres, nem que seja num gesto indiferente. Não, amor, leva-me a sério quando escrevo sou cínica sou indigente, sou cega amante indiferente ao amor que tenhas.
Não me leves a sério, amor, quando escrevo palavras gastas e usadas. Não, não me leves a sério, amor. Serei eu cínica amadora nesta arte de amar por predestinação, sortilégio de uma espécie empacotada? Não, amor, não me leves a sério quando escrevo o que é desejo ouvir, nem que seja a negação. Não, amor, leva-me a sério quando escrevo amor onde me leres, nem que seja num gesto indiferente. Não, amor, leva-me a sério quando escrevo sou cínica sou indigente, sou cega amante indiferente ao amor que tenhas.
Cartas de Amor
X
Caio, amor, tão perto de ti acto de coragem. Como é possível amar? Assim? Sem nada, sem troca ou usura ou rasto gasto de corpo contra corpo. Amar, somente, quando nada nos obriga, quando nada nos empurra, quando nada nos impõe. Será possível, amor, que me engane? Será inevitável? Será, somente, (amor) especulação? Será, amor, um mal que cresceu rebelde e indulgente ao meu padecer? Serás tu (amor)? indiferente que de negro me vestes incansável para buscar amor esconjurado.
Caio, amor, tão perto de ti acto de coragem. Como é possível amar? Assim? Sem nada, sem troca ou usura ou rasto gasto de corpo contra corpo. Amar, somente, quando nada nos obriga, quando nada nos empurra, quando nada nos impõe. Será possível, amor, que me engane? Será inevitável? Será, somente, (amor) especulação? Será, amor, um mal que cresceu rebelde e indulgente ao meu padecer? Serás tu (amor)? indiferente que de negro me vestes incansável para buscar amor esconjurado.
Cartas de Amor
IX
Quero que saibas, amor, que desta terra apenas levo um coração limpo e tenebroso; que a fome não corrompe o meu desejo (amor); que não sabendo amar, aprendi contigo a ver o mundo tão distinto, tão diferente: calmo, transparente, passando por mim, ao meu lado, passando por mim ( amor) – como tu. Como tu me abriste o coração que já só de rojo me obrigara a caminhar?!, sem nada ver, indiferente. Mas é tenebrosa a escuridão invadindo esse medo de te perder, apenas dentro de mim, ou de te ter a meu lado, amor.
Amor, quero que saibas, o meu pavor de nada saber, de nada saber dar, de não saber amar-te no teu desejo, na tua fome, na tua sede privando noutro caminho. Como sinto terror, amor. Quero que saibas, amor, que há muito, nesta terra, o meu coração é limpo e tenebroso.
Agora que já sabes, amor, é teu o poder de assombrar.
Quero que saibas, amor, que desta terra apenas levo um coração limpo e tenebroso; que a fome não corrompe o meu desejo (amor); que não sabendo amar, aprendi contigo a ver o mundo tão distinto, tão diferente: calmo, transparente, passando por mim, ao meu lado, passando por mim ( amor) – como tu. Como tu me abriste o coração que já só de rojo me obrigara a caminhar?!, sem nada ver, indiferente. Mas é tenebrosa a escuridão invadindo esse medo de te perder, apenas dentro de mim, ou de te ter a meu lado, amor.
Amor, quero que saibas, o meu pavor de nada saber, de nada saber dar, de não saber amar-te no teu desejo, na tua fome, na tua sede privando noutro caminho. Como sinto terror, amor. Quero que saibas, amor, que há muito, nesta terra, o meu coração é limpo e tenebroso.
Agora que já sabes, amor, é teu o poder de assombrar.
Cartas de Amor
VIII
Se soubesse, amor, o caminho mais fácil, fugiria lamentando-me. Assim, amor, só me resta percorrer avidamente, sem cansaço, esta via sinuosa, derrotando-me solidão ante solidão.
Se eu soubesse, amor, quando coincides, também, solidão, não rejeitaria o caminho mais ágil.
Mas, no interior há uma prece aclamando: quão diferente poderia suceder se soubesses, amor, combater esta forma estranha de resistir distância dissuadindo-me no meu corpo, transformando-me para outra vida evidenciar.
Se soubesse, amor, o caminho mais fácil, fugiria lamentando-me. Assim, amor, só me resta percorrer avidamente, sem cansaço, esta via sinuosa, derrotando-me solidão ante solidão.
Se eu soubesse, amor, quando coincides, também, solidão, não rejeitaria o caminho mais ágil.
Mas, no interior há uma prece aclamando: quão diferente poderia suceder se soubesses, amor, combater esta forma estranha de resistir distância dissuadindo-me no meu corpo, transformando-me para outra vida evidenciar.
Cartas de Amor
VII
Já não sinto nada, amor, para além da tua falta. Já nada nem ninguém, amor, me obriga a não esquecer a tua falta.
E tu, sem pressa, percorres em sossego todas as ruas, todas as cidades, todas as palavras sem monção alojada nos teus olhos, como eu amor, demolida por dentro, à tua beira quebrando interiormente, disfarçada de qualquer coisa para que de mim não sobre nada.
Já não sinto nada, amor, para além da tua falta. Já nada nem ninguém, amor, me obriga a não esquecer a tua falta.
E tu, sem pressa, percorres em sossego todas as ruas, todas as cidades, todas as palavras sem monção alojada nos teus olhos, como eu amor, demolida por dentro, à tua beira quebrando interiormente, disfarçada de qualquer coisa para que de mim não sobre nada.
Cartas de Amor
VI
Quando o tempo tiver passado, amor, excedendo-nos na sua composição, talvez haja alguém que compreenda a negação bastando-se, sem dúvida, sem hesitação.
E do meu pesar somente a vergonha me impede de não negar, também, amor, este sentimento deslizando puro desejo de te afirmar (amor): minha doce enfermidade sem remédio, sem pudor refreando o desassossego, o cuidado, a negação.
Quando o tempo tiver passado, amor, excedendo-nos na sua composição, talvez haja alguém que compreenda a negação bastando-se, sem dúvida, sem hesitação.
E do meu pesar somente a vergonha me impede de não negar, também, amor, este sentimento deslizando puro desejo de te afirmar (amor): minha doce enfermidade sem remédio, sem pudor refreando o desassossego, o cuidado, a negação.
Cartas de Amor
V
Temor, amor, é o que sinto despojada de ti, é não saber de que são feitas as tuas lágrimas ou se choras ou em que pensas quando adormeces ou se ris quando estás só.
Temor, amor, é tudo o que desconheço e o que desconheço, bem sabes, és também tu (amor).
Amor, se eu te conhecesse, conheceria também os teus segredos, os teus anseios, os teus receios, um mundo só teu devastado – não, não é importante conhecer, nem conhecer-te para saber que o mundo e tu são admiravelmente mais belos e desejáveis: desconhecidos, adivinháveis.
Temor, amor, é o que sinto despojada de ti, é não saber de que são feitas as tuas lágrimas ou se choras ou em que pensas quando adormeces ou se ris quando estás só.
Temor, amor, é tudo o que desconheço e o que desconheço, bem sabes, és também tu (amor).
Amor, se eu te conhecesse, conheceria também os teus segredos, os teus anseios, os teus receios, um mundo só teu devastado – não, não é importante conhecer, nem conhecer-te para saber que o mundo e tu são admiravelmente mais belos e desejáveis: desconhecidos, adivinháveis.
Cartas de Amor
IV
Sei apenas, amor, que o tempo pára imóvel e o espaço abre em lume a tua presença, quando – só – amor, espero esse lume, nada mais.
Mas, é com um cuidado atento que desço uma máscara, amor, indiferente, enquanto a vida cresce subitamente mais plena e alimenta a sede de apenas diante de ti ser, também, esse lume.
E não é raro – obrigada –, amor, ter de desviar os olhos ou inclinar o corpo para longe.
Como queima esse lume?! E como irrompe graciosa a vida nesse lume interiormente, dentro, cada vez mais fundo removendo a escuridão e o terror, amor.
E tu? amor – bem sabes que não espero nada, nada mais, e que nada tenho senão o lume.
Sei apenas, amor, que o tempo pára imóvel e o espaço abre em lume a tua presença, quando – só – amor, espero esse lume, nada mais.
Mas, é com um cuidado atento que desço uma máscara, amor, indiferente, enquanto a vida cresce subitamente mais plena e alimenta a sede de apenas diante de ti ser, também, esse lume.
E não é raro – obrigada –, amor, ter de desviar os olhos ou inclinar o corpo para longe.
Como queima esse lume?! E como irrompe graciosa a vida nesse lume interiormente, dentro, cada vez mais fundo removendo a escuridão e o terror, amor.
E tu? amor – bem sabes que não espero nada, nada mais, e que nada tenho senão o lume.
Cartas de Amor
III
Acordo, amor, sem urgência para que a noite caia novamente.
E o dia começa a doer enquanto aguardo impotente que passes desprendido e dos teus lábios a voz se forme som disparado de encontro a mim, amor.
Aí, amor, um novo acordar eclode iluminando o obscuro receio de já não me reconheceres ou de que me comeces a amar, também, obscuramente, desastrado e débil, amor, face aos momentos sem distância separando-nos.
E delicadamente revisitados (amor), esses momentos, seriam adormecidos sem urgência de acordar dolentemente para um novo dia em que aguardarias que passasse e a minha voz formasse nos meus lábios um som disparado de encontro a ti amor, iluminando-te, sem precipitação e sem receio.
Acordo, amor, sem urgência para que a noite caia novamente.
E o dia começa a doer enquanto aguardo impotente que passes desprendido e dos teus lábios a voz se forme som disparado de encontro a mim, amor.
Aí, amor, um novo acordar eclode iluminando o obscuro receio de já não me reconheceres ou de que me comeces a amar, também, obscuramente, desastrado e débil, amor, face aos momentos sem distância separando-nos.
E delicadamente revisitados (amor), esses momentos, seriam adormecidos sem urgência de acordar dolentemente para um novo dia em que aguardarias que passasse e a minha voz formasse nos meus lábios um som disparado de encontro a ti amor, iluminando-te, sem precipitação e sem receio.
Cartas de Amor
II
Quando saio, amor, à tua procura, é um mundo visivelmente novo que anseio. (Só tu me retiras do meu recolhimento e me abres secretamente o desconhecido.). Saio todos os dias e todas as noites, amor, sabendo que não me procuras, que não sentes a privação nos meus gestos desastrados e incorruptos: à tua procura. Não pressentes a minha voz, amor, somente delicada para ti? Não, não reparas nem ouves os meus apelos definhando tímidos, enfraquecendo à tua mercê, amor? Porque não me procuras, amor?, eu que me abandonei e abandono todos os dias e todas as noites para te encontrar diante de mim abandonado à minha procura, procurando, procurando inevitáveis amor.
Porquê amor? É forçoso que esta procura seja apenas docemente desesperada e perdida enquanto saio todos os dias e todas as noites não sabendo nunca que mundo desconhecido anseias? Porquê, amor, desconheço?
Quando saio, amor, à tua procura, é um mundo visivelmente novo que anseio. (Só tu me retiras do meu recolhimento e me abres secretamente o desconhecido.). Saio todos os dias e todas as noites, amor, sabendo que não me procuras, que não sentes a privação nos meus gestos desastrados e incorruptos: à tua procura. Não pressentes a minha voz, amor, somente delicada para ti? Não, não reparas nem ouves os meus apelos definhando tímidos, enfraquecendo à tua mercê, amor? Porque não me procuras, amor?, eu que me abandonei e abandono todos os dias e todas as noites para te encontrar diante de mim abandonado à minha procura, procurando, procurando inevitáveis amor.
Porquê amor? É forçoso que esta procura seja apenas docemente desesperada e perdida enquanto saio todos os dias e todas as noites não sabendo nunca que mundo desconhecido anseias? Porquê, amor, desconheço?
Cartas de Amor
I
Acontece anoitecer, amor, sem suspeita aos teus olhos –
o meu corpo peregrino vai tombando no seu caminho: solitário, triste e vazio, como vazios, tristes e solitários ficam os meus olhos exilados do teu aparecer. E apenas a chuva generosa o reconforta, amor, de sucumbir distante e inacontecido. Essa água abundante é a única presença toldando e embriagando, quando já sem forças regresso, lentamente, sem querer revisitar os acontecimentos de mais um dia inútil e gasto à espera do possível (des)embaraço. E açulada pela minha fraqueza, amor, acontece anoitecer amortecendo para fugir ou para reter o que é possível. Como se fosse possível saberes ou adivinhares que anoiteço com uma mordaça que me impede de dizer tudo o que poderia acontecer se doente não estivesse (amor), se em tudo pudesse ser diferente ao teu lado, anoitecendo em silêncio. O silêncio à tua volta – voltada do avesso para acontecer, anoitecer amor junto a ti.
Acontece anoitecer, amor, sem suspeita aos teus olhos –
o meu corpo peregrino vai tombando no seu caminho: solitário, triste e vazio, como vazios, tristes e solitários ficam os meus olhos exilados do teu aparecer. E apenas a chuva generosa o reconforta, amor, de sucumbir distante e inacontecido. Essa água abundante é a única presença toldando e embriagando, quando já sem forças regresso, lentamente, sem querer revisitar os acontecimentos de mais um dia inútil e gasto à espera do possível (des)embaraço. E açulada pela minha fraqueza, amor, acontece anoitecer amortecendo para fugir ou para reter o que é possível. Como se fosse possível saberes ou adivinhares que anoiteço com uma mordaça que me impede de dizer tudo o que poderia acontecer se doente não estivesse (amor), se em tudo pudesse ser diferente ao teu lado, anoitecendo em silêncio. O silêncio à tua volta – voltada do avesso para acontecer, anoitecer amor junto a ti.
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