1.7.08

Cartas de Amor

I

Acontece anoitecer, amor, sem suspeita aos teus olhos –
o meu corpo peregrino vai tombando no seu caminho: solitário, triste e vazio, como vazios, tristes e solitários ficam os meus olhos exilados do teu aparecer. E apenas a chuva generosa o reconforta, amor, de sucumbir distante e inacontecido. Essa água abundante é a única presença toldando e embriagando, quando já sem forças regresso, lentamente, sem querer revisitar os acontecimentos de mais um dia inútil e gasto à espera do possível (des)embaraço. E açulada pela minha fraqueza, amor, acontece anoitecer amortecendo para fugir ou para reter o que é possível. Como se fosse possível saberes ou adivinhares que anoiteço com uma mordaça que me impede de dizer tudo o que poderia acontecer se doente não estivesse (amor), se em tudo pudesse ser diferente ao teu lado, anoitecendo em silêncio. O silêncio à tua volta – voltada do avesso para acontecer, anoitecer amor junto a ti.

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